Eusébio Tamagnini

Eusébio Tamagnini.

Eusébio Barbosa Tamagnini de Matos Encarnação (Tomar, Santa Maria dos Olivais, 8 de Julho de 1880 — Tomar, Santa Maria dos Olivais, 1 de Novembro de 1972), mais conhecido por Eusébio Tamagnini, foi um lente catedrático da Universidade de Coimbra, onde regeu a cadeira de antropologia e fez investigação na área da antropobiologia, na qual cultivou laivos de eugenismo. Foi também um político da extrema direita portuguesa, inicialmente ligado ao Integralismo Lusitano e ao nacional-sindicalismo. Aderiu ao ideário do Estado Novo e foi vice-reitor da Universidade de Coimbra e Ministro da Instrução Pública do governo de António de Oliveira Salazar (23 de Outubro de 1934 a 18 de Janeiro de 1936).

Biografia

Nasceu em Tomar a 8 de Julho de 1880. Cursou Filosofia na Universidade de Coimbra onde obteve a licenciatura em 1903 e o doutoramento em 1904. Dedicou-se à docência universitária na Universidade de Coimbra, tendo a seu cargo a cadeira de Ciências Histórico-Naturais[1].

Do seu extenso currículo profissional que se encontra devidamente registado em Memoria Professorum Universitatis Conimbrigensis 1772-1937, assinala-se o seu mandato como vice-reitor da Universidade de Coimbra (1916-1918) e a direcção de vários museus, tendo recebido o título de Director honorário do Museu e Laboratório Antropológicos em 1950[1].

Eusébio Tamagnini está ligado ao ensino normal superior, desde as primeiras tentativas da sua criação, em 1911. Tendo feito parte das sucessivas comissões e corpos docentes que tentaram organizar o ensino normal superior, nomeadamente da comissão nomeada em 1916, para redigir o regulamento geral das escolas normais superiores. Eusébio Tamagnini teve uma acção relevante como professor metodólogo e como bibliotecário da escola de Coimbra entre 1915-1925.

Eusébio Tamagnini teve também uma significativa acção política, exercendo diversas funções nos organismos de coordenação e de apoio à decisão no sector educativo, nomeadamente no Conselho Superior de Instrução Pública e na Junta Nacional da Educação. No entanto, foi como Ministro da Instrução Pública, cargo que exerceu entre 23 de Outubro de 1934 e 18 de Janeiro de 1936, que adquiriu maior destaque. Foi o último ministro da "Instrução Pública", já que a sua saída do ministério correspondeu à criação do Ministério da Educação Nacional, marcando a ruptura institucional e a alteração conceptual que resultaram da consolidação do Estado Novo. A 16 de janeiro de 1936, foi agraciado com o grau de Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.[2]

Em tempos de grande agitação e de algum desnorte na política educativa, Eusébio Tamagnini pouco conseguiu fazer nos quinze meses em que esteve no ministério. E, o seu nome fica, sobretudo, ligado a uma série de medidas repressivas contra professores republicanos e democratas: é durante a vigência de Eusébio Tamagnini na pasta da instrução que o Conselho de Ministros assina um diploma legislativo, com data de 13 de Maio de 1935 destinado, a iniciar a depuração dos serviços públicos com carácter sistemático. Aplicado sem demora, logo caíram sob a alçada do Decreto trinta e três funcionários civis e militares, imediatamente afastados do serviço. Entre os civis então atingidos contaram-se alguns professores universitários do mais alto prestígio: Abel Salazar, Rodrigues Lapa, Sílvio Lima e Aurélio Quintanilha. Foi também neste período conturbado que foi lançada a desconfiança sobre os critérios de atribuição de bolsas de estudo e outros apoios que eram concedidos pela Junta de Educação Nacional, tendo sido suspensa essa atribuição por ordem deste ministro em Despacho de 15 de novembro de 1934,

A sua intervenção pedagógica está ligada, em grande parte ao ensino normal superior. Vale a pena referenciar, quatro aspectos do seu ideário educativo e pedagógico. Em primeiro lugar, a defesa de uma formação científica, pedagógica e prática dos professores do ensino secundário no âmbito universitário. Eusébio Tamagnini recusa qualquer outra orientação, defendendo sempre a valorização dos programas de formação. Nos seus escritos e nas suas propostas, considera essencial o saber profissional dos professores, um saber que não se define apenas pela aquisição dos conhecimentos científicos na área da docência, mas, também pelo domínio de competências pedagógicas.

Foi publicado, após a sua saída do Ministério, em 1936, um livro sobre alguns aspectos do problema escolar português. Trata-se de um testemunho e de uma memória, talvez a memória do que ficou por fazer na sua acção ministerial. É a última reflexão que se conhece sobre temáticas educativas do professor, do especialista e do político.

Faleceu em Tomar a 1 de Novembro de 1972.

Notas

  1. a b Memoria Professorum Universitatis Conimbrigensis 1772-1937.
  2. «Entidades Nacionais Agraciadas com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Eusébio Barbosa Tamagnini de Matos Encarnação". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 6 de agosto de 2020 

Ligações externas

  • https://www.cm-coimbra.pt/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=3867&Itemid=381
  • v
  • d
  • e
Ministros da Instrução Pública e Ministros da Educação Nacional de Portugal durante a Segunda República
Ditadura Militar (1926–1928), Ditadura Nacional (1928–1933) e Estado Novo (1933–1974)

Junta de Salvação Pública José Mendes Cabeçadas (interino) Armando da Gama Ochoa Joaquim Mendes dos Remédios Artur Ricardo Jorge Alfredo Magalhães (2.ª vez) Duarte Pacheco Gustavo Cordeiro Ramos Francisco Xavier da Silva Teles Eduardo da Costa Ferreira Artur Ivens Ferraz (interino) • Vítor Hugo Duarte de Lemos Gustavo Cordeiro Ramos (2.ª vez) Alexandre Sousa Pinto Manuel Rodrigues (interino) Eusébio Tamagnini • António Carneiro Pacheco Manuel Rodrigues (interino) António Carneiro Pacheco (continuação) Mário de Figueiredo José Caeiro da Mata Fernando Pires de Lima Francisco de Paula Leite Pinto Manuel Lopes de Almeida Inocêncio Galvão Teles José Hermano Saraiva José Veiga Simão

Bandeira ministerial portuguesa
« Primeira República
Terceira República »
  • v
  • d
  • e
Presidência de Óscar Carmona
Presidente do Conselho
António de Oliveira Salazar, 100.º chefe de governo de Portugal
Ministros
Interior
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Justiça e dos CultosA / JustiçaB
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Finanças
Guerra
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Marinha
Negócios Estrangeiros
José Caeiro da Mata (1933) • Aníbal de Mesquita Guimarães interino (1933) • José Caeiro da Mata continuação (1933–1934) • Aníbal de Mesquita Guimarães interino (1934) • José Caeiro da Mata continuação (1934) • Aníbal de Mesquita Guimarães interino (1934) • José Caeiro da Mata continuação (1934–1935) • Aníbal de Mesquita Guimarães interino (1935) • Armindo Monteiro (1935–1936)
Obras Públicas e Comunicações
Colónias
Armindo Monteiro (1933–1934) • Manuel Rodrigues interino (1934) • Armindo Monteiro continuação (1934–1935) • José Ferreira Bossa (1935–1936)
Instrução Pública
Gustavo Cordeiro Ramos (1933) • Alexandre Sousa Pinto (1933–1934) • Manuel Rodrigues interino (1934) • Eusébio Tamagnini (1934–1936)
Comércio, Indústria e AgriculturaA /
Comércio e IndústriaB
Sebastião RamiresA, B (1933–1934) • Leovigildo Franco de SousaB interino (1934) • Sebastião RamiresB continuação (1934–1935) • Rafael DuqueB interino (1935) • Sebastião RamiresB continuação (1935–1936)
Agricultura
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